5 de mar. de 2011

O intenso desistir

A falsa felicidade, aquele infiel sentimento que toma meu ser em manhas frias de domingo
Um perfume de jasmim se faz tão presente
Que quase sinto me carregado por ele
Quantas e quantas vidas permanecerei aqui?
Sentado em meu calvário silencioso e sutil
Olhando esta cruz e me perguntando quando terei coragem
Quanto de coragem seria o ideal para me fazer subir até lá?
O sol insiste em não aparecer nesta limitada realidade
Eu quase posso voar
Tamanho o peso em minhas costas
Toda a culpa deve ir para algum lugar
Entre tantos sacos de ossos e sangue
Alguém achou por graça ou engraçado escolher o menos interessado ou o menos interessante
Olho para o limite deste ser
E o teto parece ser tão baixo deste lado da colina
As flores no jardim apodrecem, assim como meus dias
Estou perdido e esquecido
Deixado de lado por meus entes mais queridos
Por remotas vezes alguém me traz algo para beber
Mas por algum motivo no percurso a água sempre se torna vinagre
E é tudo que tenho para existir e resistir
Certa vez me trouxeram algo especial
E esta em meu bolso desde então
Esperando a hora de ser usado
A mesma falca cega que sempre usei para me fantasiar de pirata quando criança
Sou o mesmo que desiste de caminhar
Aquele que simplesmente olha para toda a extensão do percurso e não nota nenhum sentido em ter joelhos tão feridos
E por entender assim desta forma, fui derrubado de meu ser
E jogado aqui para ser punido até que minhas perguntas voltem a se tornarem noites de carnaval
Sinto o calor daquelas que já não posso mais contemplar em meus braços
Uma nostalgia feroz e maldita que me arranha as costas em dias de quedas livres
Um passado tenta incansavelmente me lembrar a cor de minha armadura
Aquela que já me fez subir naquela pilha de corpos derrubados
Meu mais bravo conselheiro foi o que misturou o veneno ao meu brinde de mais uma vitoria sofrida
E quando me sinto derrotado, olho para os lados e entendo que não há derrotas ou vitoria
Existem apenas homens correndo de encontro a seus dogmas
Sem seus brilhos naturais
Sem os sorrisos que deveriam sentir
Com roupas rasgadas e totalmente esquecidos pela nave mãe
Com olhares distantes, como se nem soubessem o que suas mãos tocam
O que devem de fato desejar
Já estive ali a correr e transpirar a cada passada longa de perna
Mas quando os malditos sons de violinos me convenceram de que deveria ser diferente
Que poderia ser real, e que meus dedos poderiam tocar qualquer desejo incompleto
Senti me tentado, assim como adão ao ver Eva ali, tão nua e tão vermelha
Desisti de tudo que já fui por uns momentos de incerto
E por uma eternidade preso dentro de mim
Não posso sequer implorar pela lamina fria e úmida
Não há sentenças ditas ou malditas
Vou permanecer aqui, só o tempo de descobrir que a prisão jamais deixou de ser a parte mais intensa de meu mundo
E que sou o mesmo que esta usando aquela coroa dourada e repleta de diamantes
Mas até entender isso, minha falta de orgulho ou o excesso do mesmo me manterá bem seguro de meu próprio mundo nesta fria e distante cela
Junto de um carcereiro sádico e ocioso a balançar as chaves diante de minha cela
Dia a pós dia propondo pactos de revoluções
Tentando me fazer acreditar em rebeliões
E quando se cansar de tentar me fazer lutar as suas batalhas
O mesmo maldito carrasco irá me torturar com imagens esquecidas
Algumas jamais vividas
Tantas delas lamentadas e doloridas
E assim será meu pequeno mundo
Dominado pelo exercito invisível de um homem só
Aquele homem que se distraiu com a folha seca dançando com o vento
E sequer percebeu quando o céu o engoliu... Sequer percebeu que suas crenças foram devoradas por aqueles que regem a grande sinfonia.

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