13 de jan. de 2011

Redenção

Nada a dizer
Pelo menos nada que deveria ser dito
Pensamentos reais jogados de canto
E neste momento tudo parece incerto
Um medo me toma
E me carrega de encontro a um paredão
Uma velocidade desumana
Mal me enxergo em meio a toda a intensidade
Quando visto de um plano mais amplo
Apenas um pacote bêbado a ser arremessado
Um pouco de ar seria bom neste lugar
Algum fôlego nestes velhos pulmões
Estou a mercê da sorte
Como aquele velho bêbado que você finge nem ver nas esquinas
Toda segurança que costumava me acordar em dias quentes
Parece cada vez mais distante de meus atos
Fugindo por entre meus dedos
Vou tentando tentar um pouco menos a cada ato
Parece possível quando não abro os olhos
E quando fecho a porta
O mesmo frio de vidas passadas me amedronta
Eu caminho devagar
Para não acordar os demônios e fantasmas neste quarto escuro
Tentando sair do único lugar que pude tomar como lar
Sei que há algo além daquele pântano úmido
O incerto quase me deixa eufórico
Com uma pequena lanterna e rezando para nem ser notado
Pego meu agasalho mais surrado
E sigo meu nariz
Agarrado a tudo que restou de coragem
Tentando manter a cabeça erguida
Um pouco de orgulho seria bem vindo neste momento
De bolsos vazios
Não serão mais necessários tantos pesos mundanos
Quando o sol tocar a consciência dos que dormem
E lhes resgatarem de seus mundos particulares
Espero estar uma tanto distante de tudo isso
Mas caso não consiga
Valerá estar entre os dentes deles
Toda a coisa que me ensinaram a chamar de vida
Não faz sentido algum
Nem fará, enquanto estiver sentado e imaginando
Por quantas existências mais serei isso?
Quanta dor seria suficiente para me arrancar deste transe?
Então nem olharei para trás
Talvez sinta medo
Ou a maldita nostalgia me convença a ficar ou a voltar
Não irei distrair meu espírito desta vez
Nem me encontrar tão rápido assim
Algo me diz que desta vez serei encontrado
Serei descoberto
E mesmo temendo o escuro de cada esquina
Vou manter minha fé
Como uma pequena vela acesa
A mercê da ventania antes das chuvas de verão
Até sentir que finalmente minha caminhada terminou
E quando a brisa tocar meu rosto cansado,
E todo receio se dissipar,
E as tardes forem intensas e preguiçosas
Cheias de sol iluminando a varanda
Cada respiração será ofegante, próxima e intima
Como se fossem providas de um único ser
Os olhares serão tão cheios de afetos
Aqueles que quase arrancam uma lágrima de sorriso
E cada palavra fará sentido
E cada sentido estará em teu devido lugar
Então saberei que finalmente a vida me deu a chance de viver,
De enfim estar no palco
Só de vê-la ali a me esperar
A queixar-se de minha demora com um sorriso de alivio pela minha chegada
Vou gastar todo meu ser
Na fogueira mais intensa
Quando chegares, não faça alarde
Apenas feche a porte e deite-se ao meu lado querida
Apenas deite-se ao meu lado...

O Homem invisível

Sou uma vírgula
Sou uma dor aguda no peito
Atendo a teus pedidos desesperados
É ai que eu ofereço minha ajuda
Escuto-te
Conforto-te
Sou seu vicio
Tua droga
Seu uso, dia após dia
Você me diz coisas fúteis
E eu te mostro as maravilhas do mundo moderno
Eu mergulho bem fundo pra tenta te encontrar
Mas teu lago esta poluído demais.
Seu querer é tão indeciso
Você me arranca sorrisos falsos o tempo todo
Falsidade que não esta no sorriso
E sim nos motivos pra sorrir
Eu só quero acreditar que existo
Vou acreditar mais na próxima chance
Pois já estou farto desta fé vazia.
Sua roda de amigos é tão letal a minha existência
Eu tenho uma frase e um cigarro no maço
Mas vou guardá-los pra mais tarde.
Seu vestido branco esta tão sujo hoje
O que eu deveria fazer?
Seu mundo me consome
A chuva só vem pra molhar minhas roupas.
Eu sou o sol e seus efeitos
Você me quer
Mas só para se bronzear sua pele em minha luz
Ninguém comenta sobre mim
Acho que não seria um bom tema
Ninguém me percebe quando a crise me devora
Eu sou aquele que esteve em coma por 30 anos
E acordou desnorteado
Sou o rapaz tímido que sofreu calado diante da tortura
Sua festa esta tão vazia
Acho que seus amigos se cansaram de você
Acho que todo o teatro de uma vida
Afinal não suporta tantos atos
Você continua dia após dia
Riscando nomes de tua agenda
Aquela de capa de ouro
Tantos riscos que poderiam ser assumidos
E você tem sempre uma ultima opção em mim
E eu só quero permanecer abraçando esta mentira
De que sou a primeira das delas
Como um viciado largado de tua própria fé
Sem caminhos ou desejos reais
Apenas se agarrando a cordas desgastadas
Vou vivendo cada vertigem
Sem muitos medos de possíveis quedas
Gravando cada segundo em minha pele
E você seguirá usando esta droga
E eu sempre estarei esperando que cada dose minha
Possa te levar mais e mais longe.

3 de jan. de 2011

Saudade...

Uma palavra tão singela
Tão pouco dotada de importância quando dita
Poucos entendem o sentido do sentir
Muitas vezes nos deparamos com certas nostalgias
Coisas tão bem guardadas que acabam por esquecidas
E quando tempos depois decidimos
Que é tempo daquela limpeza na caixa suspensa
Encontramos tanta poeira e itens não mais usados
Logo esquecemos o sentido de estar com a vassoura na mão
E usamos todas as energias guardadas em meio ao pó
Concentramos todas as energias
E de forma tão humana
Por segundos de matéria
E horas de espírito
Conseguimos reler as linhas daquilo que já foi escrito
Sentir cada velho e necrosado olhar distante
Como se fosse essencial buscar respostas lá
E se estas respostas fossem abrir atalhos
Para um futuro mais claro
Mesmo se o presente for da maneira humana que desejamos
Até que o espírito esteja em paz e centrado
Haverá no passado algumas perguntas
Inúmeras frustrações
Acredito que esta seja a parte mais bela do respirar
Mesmo sem motivos tão fortes assim
O espírito exige uma busca completa
Nada mudará com tal jornada interna
Nenhum pelo se recolocará na pele
Se tudo fosse mais fácil...
Se os caminhos não fossem tão cruzados...
Quantas noites frias caminhando pela cidade...
Alguns encontros...
Outrora desencontros evitáveis...
Seria mesmo evitável?
E se o frio no rosto diante da visão urbana,
Fosse o sentido para colocar o tênis e se mover?
Os caminhos deveriam ser mais exatos ou objetivos?
Nada será diferente
Mas sempre que estiver ali
Imaginando o que poderia ser novo ou diferente
Valerá cada segundo neste estado estático
Pois só assim entenderá que o sangue vermelho correu pulsante
E seus olhos queimaram como nunca
E seu peito de tão pesado
Queixou-se de não poder respirar
Sua voz quase não saiu
E a palidez te deixou naquele momento
Lembra-se de como era bom estar vivo?
O passado sempre te lembrará
E a cada nostalgia momentânea
Cobrará-te um pouco de mais de intensidade
Talvez seja este o único modo de encontrarmos a redenção.
O provável de cada evento jogado em cantos da sala
Trouxe-me aqui
Fez me desacreditar um tanto menos em destinos
Ah sim! Eu vou me perder nas esquinas deste pequeno mundo
Vou sentir medo do estranho que se aproxima
Nas madrugadas solitárias e nubladas
Quero sentir toda a paranóia de estar sendo seguido
Desistir de lutar contra aquelas sorridentes e sádicas
Encontrar-me em meio ao fogo cruzado
Como alguém que acorda nas trincheiras de pijama
E sem entender o que se passa
É induzido a pegar um fuzil enferrujado e lutar
Sem motivos ou motivações
Vou perder cada gota de humanidade
E cada essência vermelha que me impulsionava
Sempre ao norte, sempre ao norte.
Sua nostalgia mais intensa
Será a tua bussola
E às vezes quando estiver perdido dentro de si
Será o lugar mais oportuno para se encontrar
Sem medidas exatas
Tua maior frustração enraizada
No final das contas
Será tua âncora
E te salvará de si mesmo.

O mundo à esquerda

Às vezes penso que quando deixar de compartilhar desta realidade
Gostaria de passar um longo tempo caminhando
Viajando sem veículo qualquer
Gastar toda a energia guardada de forma covardemente prudente
Sentir cada frustração de vidas passadas
E logo deixá-la em qualquer bifurcação na estrada
Nem alegrias, nem tristezas podem ficar tempo demais em minha mochila
Apenas o peso certo, em momentos certos.
Algumas lembranças esquecidas dentro deste frasco sem matéria
Podem anestesiar minha caminhada
Alguns sorrisos solitários de olhos fechados também.
E quando estiver já bem distante de qualquer ponto de partida
Vou tentar me perder mais e mais
Apenas pelo desafio de me encontrar
Já mesmo por isso nem estarei de posse de minha velha bussola
Vou usar as melhores memórias
E me recordar de perfumes que me deixavam arrepiados
Sorrisos que me permitiam ser tão melhor
Olhares, daqueles tão afetuosos que me deixavam quase nu
Não mais terei constrangimento em me ver na essência
Posso olhar para o céu avermelhado acima de mim
E escutar bem alta aquela musica que me fazia sentir
A mesma tão cheia de receio de ser compartilhada pela matéria
Não haverá mais ninguém naquele micro universo particular
Quero andar
Se quiser até correr
Vou tentar me lembrar o tempo todo
Que já não existe pulmões para encher e descarregar
Posso até voar e observar o que este inconsciente mundo pode me mostrar
Mas não o farei
Quer acreditar que estou cansado
Imaginar que minhas pernas doem
E meus olhos estão se fechando sozinho
Vou tentar me adaptar a tudo aquilo
Mas não tão rápido
Mesmo estando acima
Ou abaixo de qualquer realidade
Eu vou precisar manter minha humanidade em teste
Mesmo estando sem a pesada roupa
Gastar um pouco de carne e ossos
E quando deixar de me ver assim
Com a idéia de o pesado ser
Sem o corpo cansado para carregar
Então neste momento
Desejarei voltar para a velha realidade
E retomar de onde parei
Com todas as condições humanas
Alguns pesados dilemas a mais
Inúmeras decisões covardemente não tomadas
Mais e mais do mesmo velho ser.
Um dia entenderei o sentido de cada cicatriz na alma
Penso que no final das contas
Quanto tudo for colocado na balança
Todas as marcas
Até mesmo as pequenas
Serão unidas de forma milimétrica
Então tudo ficará mais claro
O mapa estará completo
E neste momento surgirá uma jornada
Um tanto mais além do que esta
Uma busca por um lugar
O lugar onde todas as almas descansam
O lugar onde as almas finalmente se descompactam de todo o resto
Ali talvez o sentir acumulado por milênios de idas e vindas
Será pesado e medido
E retornará como uma chuva de verão
Em dias quentes e abafados
Para assim poder estar sempre orientando as almas presas em casas de carne e osso,
E assim não as deixarem desistir do real sentido
Do verdadeiro sentido de cada olhar distante ao horizonte.