17 de jul. de 2011

Leve queda.

Homem ao mar!
Estas palavras entravam em meus ouvidos como Anzóis
Uma puxada em meus sentidos e tudo estará a salvo
A grande metade de tudo
Aquilo que deveria tentar ser salvo
Agora afunda como uma ancora
Homem ao mar!
Um sufocante e escuro mundo absorve meus anseios
Eu deveria estar ali
E quando tudo se tornar hipótese
Eu estarei à margem de mim mesmo
O silêncio vai apagando os rastros
De tudo aquilo que já foi caminhado
Só quero mais um pouco disso
Um tanto farto do barulho
Aquele tipo de ruído que só eles sabem fazer
Tentando salvar quem jamais desejou abraços
Ou toalhas secas.
Sou o ponto inerte no imenso oceano negro e fundo
Tal como viver, não viver é parte de todas as coisas
Lembranças de tempos não tão remotos
Carregam-me até épocas mais leves
Ou mais pesadas, a nostalgia torna tudo mais contrastado
Esquinas, noites frias e avermelhadas
Pessoas a caminhar, mãos nos bolsos
A adorável fumaça a fazer fundo ao misterioso novo
Algo pulsante me puxava pelo pescoço
Onde estará o sentido de caminhar de braços dados
Em uma noite com a brisa agradável?
A cidade com tão poucas notas
E você me fala de sua vida
Eu escuto com um frio na barriga
Desejando dançar contigo ali mesmo
Escutar aquela musica bela e suave
Que apenas você e eu contemplamos
Onde foi aquele olhar distante e suave?
Estou caindo e sinto tudo rápido demais
O cheiro de penas queimadas
Faz-me entender que jamais voltarei a voar
Gostaria mesmo de poder esboçar alguma reação
Diante da tempestade que se aproxima
Agora aqui sentado na mais solitária realidade
Sem asas e sem roupas
Vejo o que jamais pude entender
Em uma breve avaliação existencial
Sem pretensões maiores e sem tanta pele limpa
Sou a vingança do crime jamais cometido
O menor entre os pequenos seres
Sequer consigo chorar sem ser fisgado pela hipocrisia
Como um filme de quinta na prateleira de um velho esclerosado
Eis me aqui para assumir minha condição de ser
Com meu imenso nariz já não mais tão imponente
Dedos sem tantos movimentos e quase congelados
Qualquer brisinha poderia causar a queda dramática
Sentindo qualquer sentir
E buscando um perdão inútil
Sou a derrota do covarde que já teve sonhos claros
Homem ao mar!
Era tudo que eu deveria ouvir para voltar a filmar a lenta queda
Não desejarei mais olhar para perspectivas
Mais e mais fundo, distante demais para voltar
Um resto de oxigênio no pulmão esquerdo
E tudo que me resta é aquilo que sempre fui
Um pacote doente e revestido de pele
Quase existente em alguma realidade
Não serei a mão a ser salva
Desta vez vou apenas aceitar a posição da queda
Muita dor, pouca dor
E não sinto diferença alguma
Nem o velho homem de barbas longas e brancas
Com o ar frágil e voz calma
Nem mesmo suas palavras acima do entender
Vão me fazer acreditar em asas novas e secas a bater no límpido céu!
Homem ao mar! Homem ao mar!
Não há motivos para alarde!