4 de set. de 2011

Olhos de vidro.

Noite clara
Tantas luzes artificiais
Sinto-me como aqueles insetos
Sedento de luz e calor
Tão cegos com isto que são carbonizados pela salvação
Estou farto de estar aqui e ser o pé no chão
Ninguém ouviu minha voz quando tentei negar
Todos riram quando demonstrei uma ponta de ódio
E nem mesmo o céu se abrindo fez que as coisas mudassem
Perdi o brilho no olhar confuso há tempos
Perdi os olhos quando as palavras cessaram
Fui encontrado em qualquer sarjeta
Meu único lar durante nem sei quanto tempo.
A mão de ferro me foi estendida
E quando me neguei a agarra La
Fui espancado até saber quem era o novo senhor
Sem garras e sem dentes
Tive cada sorriso dosado em momentos distintos
Fui seduzido a colocar estas algemas nos tornozelos
Ainda acerca de sentir
Fui treinado a me cortar e marcar cada parede
De dentro para fora
Desenhos tão macabros que assustam até quem os desenharam
O que acontece dentro, de dentro jamais deve sair
Roupas de seda
Sapatos brilhantes e lustrados
Gravatas de grife e vozes que jamais se calam
O perfume quase esconde o fedor original
Em uma sala sem janelas
Uma cortina de fumaça consome e disfarça cada desejo real
Brasas acesas como se fosse um sinal de luz
Quem sou eu agora?
Pairo sobre a profundeza enganosa de ser
Não me cuido tanto, nem me importo se estou pisando ou não
Faltou-me juízo na barganha
Tantas coisas deveriam ser sublinhadas no contrato
E quando me dei conta estava afiando o machado
Com esta coleira no pescoço
Sentado ao lado do trono, o velho trono de ossos
Cravejado de olhos que ainda pulsam lágrimas
Esperando a ordem da voz na escuridão
Ansiando o ataque ou cessar fogo
Às vezes alguém é jogado aqui para que seja devorado
Às vezes meu anseio e meu instinto travam uma batalha feroz
Nem sempre um dos lados se engasga com o orgulho
Onde estarei quando ele chegar?
Durante um tempo até cheguei a sonhar
Nada especial, apenas uma pequena porta
Talvez tentando me lembrar o quão humano eu já fui
Minha alma ainda deve estar escondida aqui dentro
Como a criança que vê pela janela a guerra chegar à porta de casa
E se esconde mesmo saber se é bom ou ruim
Um passado teve de ser mutilado
Uma vida foi arremessada nas labaredas
Não há fogo sem disposição
Não há disposição sem vitimas
E nem vitimas sem motivos
Logo meus motivos me trouxeram até esta mesa de cirurgia
Às vezes sou tomado de lampejos terríveis
Aqueles que quase tocam meus pelos
A dor de um tempo de escolhas me visita quando é de seu desejo
Uma certa vergonha confusa quase me torna pele novamente
Mas já nem espero tanta fé, Nem alivio de chegadas
E talvez, só talvez quando na próxima vez o sinal me for dado
Vou tentar não acreditar que estes fios de ouro
São os regentes de toda a existência
Então mesmo cego e aleijado
Vou me rastejar em direção ao norte
Carregar cada seqüela de pós-guerra
E tentar acreditar que os motivos são como chuva de verão
Daquelas que te surpreendem no meio do caminho
Ou te matam de sede no mesmo contexto!